Quem pensa que Giubbe Rosse, na Piazza della Repubblica, em Firenze, é só um café charmoso, se engana. O lugar é, na verdade, muito mais do que isso. Trata-se do mais célebre caffé storico letterario italiano.
O negozio foi aberto em 1896, como um Café-Birreria dei Fratelli Reininghaus. Os fiorentinos encontravam dificuldade em pronunciar o nome estrangeiro e acabavam dizendo "andiamo da quelli delle giubbe rosse", isto é, "vamos naquele das jaquetas vermelhas". Sendo assim, em 1910, o café foi re-estruturado ao estilo liberty e recebeu o novo nome "Giubble Rosse", inspirado nas jaquetas vermelhas dos garçons.
A decoração moderna agradou os intelectuais, como Vladimir Lenin, Gordon Craig, André Gide e Medardo Rosso, que logo começaram a frequentar o lugar. Conta-se que Lenin era obcecado em jogar xadrez nas mesas do café.
Rapidamente o Giubbe Rosse virou ponto de encontro oficial da elite, intelectuais, jornalistas, políticos, artistas e escritores futuristas. Frequentado por Papini, Soffici, Marinetti, Umberto Boccioni, Luigi Russolo, Palazzeschi, Carlo Carrá, entre outros entusiastas do movimento de vanguarda italiano. Por lá aconteciam as reuniões literárias dos principais grupos futuristas e das mais importantes revistas da época, como "La Voce", de Prezzolini e De Robertis.
Com o início da Segunda Guerra Mundial e a ascensão do fascismo, o clima do café mudou bastante. Perdeu o tom alegre e revolucionário das discussões e a jaqueta vermelha foi trocada pela branca. Apesar disso, manteve-se como ponto de encontro dos intelectuais, como o grupo "Solaria", Pratolini, Henri Cartier-Bresson, Umberto Saba, Elio Vitorini, Curzio Malaparte, Dylan Thomas, Erza Pound e tantos outros. Com o fim do fascismo, a famosa jaqueta vermelha voltou a cena e dessa vez (espera-se) para ficar. Deste modo, o Giubbe Rosse se transformou em um mito vivo da cidade.
É verdade que a atmosfera do lugar não parece mais tão moderna aos olhos de hoje. Não tem mais o esplendor de outrora, assim como dificilmente encontrará as acalouradas discussões estéticas e políticas do início de 1900. Contudo, ainda hoje acontecem reuniões literárias por lá e o café preserva uma curiosa decoração futurista. As paredes são repletas de quadros, matérias recortadas de jornais, revistas literárias, fotografias dos intelectuais e livros futuristas. Um verdadeiro arquivo histórico, ou melhor, café histórico! Se lembrarmos que os futuristas revolucionários queriam mesmo incendiar as bibliotecas e museus, nada melhor que preservar um pouco da história desse movimento no Giubbe Rosse.
Piazza della Repubblica, 13, Firenze.
Tel: 0055 212280